quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Sentido Algum



Ó
loucura
doce clausura

que não sei se me domina
ou se já faz parte de mim

Ó
loucura
queria que não fosse assim

tão direto,
tão reto,
assaz e escondida,
sua inteira partida,
casa do fim.

O que eu faço,
se as mãos que me seguram
nessa realidade
são finas e me trazem
solidão?

O que esperar
de dias atravessados,
sangrados e ardentes
olhos no chão?

O relógio que me abraça
esfaqueia pelas costas

Oferece beijo e tapa,
todo tempo em proposta

O que me fez viver estes dias?
O que ainda me serve de gasolina
nessa rastejante espera da vida?

O que me resta é perguntar.
e por mim me enganar
na eterna hesitação

deixar que eu creia que estar
possa levar àlgum lugar
que finda no amanhã
ou na imaginação

Onde eu acordo vivendo o mesmo,
repetindo em detalhes o erro
de querer, por cima de mim, sobreviver.

Eu queria morrer.
Eu queria não estar triste
por ter que viver.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Fica Mais Um Pouco


Sem mais
Um momento pra eu respirar
Eu consigo num ponto achar
Um motivo, um espaço algum
Que me traga de volta

O ar
E devolva pra mim a razão
Pois na cama não vou encontrar
Um espaço e motivo algum
Que me faça querer

Esquecer
Todo o dia que eu me deixar
Toda vez que eu olhar para trás
Todo sonho que ainda me traz
Um pedaço de dia

Ruim
Todos olhos olham para mim
Todo dia é o começo do fim
Cada dia é uma nova festa
E sorrir é só o que nos

Resta
Talvez pra fugir do perdão
De si mesmo, e buscar em vão
Um descanso finito e tranquilo
Os meus dentes escondem o

Não
Que afiado me corta a garganta
E se tranca atrás do meu grito
Eu o mato e me ressuscito
Esperando o

Fim da semana
Do trabalho, da escola, da vida
Minha história que se multiplica
Em pedaços que não são tão meus
E o riso que então me

Restava
Se transforma no leito de um rio
Que transborda num peito vazio
Onde a autentica angustia dança
Afastado de mim eu

Descanso
Ao menos tento deixar-me calado
O meu corpo anestesiado
Já não lembra o que é dormir
Só faz parte de um

Existir
E deixar de sentir o que pensa
É morrer por viver tão de pressa
Deixar de pensar no que se sente
É viver a favor da

Corrente
Que me prende na realidade
Na real, já passei da idade
De ser assim tão irreal

E pra que viver afinal?

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Xis



As vezes a gente só quer morrer por um tempo
E ver as coisas de longe,
Sem ter que estar tão ligado a elas

As vezes a gente quer morrer por um tempo
E deixar de forçar o que parece
Que é a única coisa que conseguimos ser

Mas com tanto vento soprando la fora
eu respiro o bafo daqui.

As vezes a gente só quer

Deixar os significados para trás
Esquecer que houve chaves pra se chegar
Esquecer que houve portas só pra trancar

E o que rege a sabedoria vital
Se não a exigência final
De ter que ficar?

Faz um tempo confortável la fora
E o contemplar de nós
Fica dentro de uma cela

Por que seu Deus fala mais alto?
Se você tem seu pai, eu posso seguir minhas vozes do além
Ou talvez ouvir a voz divina
Seja ter
A mente dividida também

Por que seu capital fala mais alto?
Se há tanta especulação eu posso seguir sendo aquém
Do que se rotula esperado
Ou talvez
Não se espere de ninguém

A dignidade não está no fim
De uma cadeia de produção
Ser você é o maior desafio da vida
E pra isso não existe perdão

O poder do querer deixar-se pra trás
É o maior desafio de ser você

De uma forma completa matar-se por fora
É o melhor jeito de poder se ver

Não é no espelho que nos conhecemos
Não é na boca do outro que a gente se faz
Veja bem, a gente é apenas um fragmento
Do universo que nos constrói

Um tchau pra todo mundo
Um tchau pra qualquer um

Um espaço, um fim, um novo estado
Um começo sem algum

Um tchau pra todo mundo
Um tchau pra qualquer um

Um trinco, um, dois, um novo lado
Um achado incomum

Um tchau pra todo mundo
Um oi só pra mais um

Dos tantos lados incapacitados
Ocupados em serem nenhum.

Um vai pra qualquer lado
Outro vai pra lado algum

Os dois encontram no mesmo ser
O que não se acha comum.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Estação Abandonada



Pelos brancos entrelaçados
arqueados sobre um olho
cego
que velado pelas poças d'água
assistem inebriados os trilhos
no infinito

o vento caminha
quase num balé assoviante
entre os pilares que sustentam
o que resta de um teto
uma parcial cobertura
inutilmente arqueia-se
sobre um chapéu
que é beijado pelo vento
que é estremecido nas raízes

o chão irregular
já não suporta mais
os velhos sapatos
os velhos pés úmidos
os velhos joelhos já não
aguentam o corpo
o chão não é o suficiente

vagando no
vazio espaço do mesmo lugar
ruas, vielas, trilhos,
números, ponteiros
todos no vazio espaço do mesmo lugar

um sonho real
que vai além do céu
que vai além da vida

você nas nuvens
o sol na cabeça

a água nas nuvens
você na cabeça

debaixo das nuvens
seus pés no chão

esperando o trem

esperando o trem
azul,

que não vem.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Vazio

Da Série - Rabiscando Ideias na Luz Falsa



Num imenso anil de ondas desconsertantes
habita um amarelo e envelhecido sorriso-de-bom-dia

A chuva de raios dourados que severamente beija sua careca enrugada
rouba de sua cabeça memorias sensoriais que, dias atrás,
eram mais vivas que sua pele

Seu queixo tremulo abriga lábios secos. Sedentos.
Tão finos grãos de areia que separam e guardam a volta lúcida
do cristalino que por hora olha à sombra da sua própria mão
os ponto-negros-gaivotas
que tão longe quietas
costuram no céu uma aurora de esperança
ofuscada pela peleja dos azuis entrepostos
e do ardor que lhe toma a consciência.

Todos olhares espectam sem saber o por quê
da renovação diária da vontade, da necessidade
ou de onde vem a inércia
que permeia e move os lábios
permitindo que se apresente o sorriso.

Amarelo e envelhecido sorriso.

sábado, 20 de abril de 2013

Interlúdio

Da Série - Rabiscando Ideias na Luz Falsa



    -Olá senhor verde.
Disse, naquele sussurro vago,
uma alma penosa de vestes longas
ao largo da noite.

Em vão.

De resposta só se ouvia a mente sã
de fundo de pano
para a musicalidade irracional e passional
das valsas cricrilantes.

O olhar triste que agora fitava opaco
frustrava e estilhaçava a vontade infinita
de uma alma inferior interagir de forma animal
com outra que não fosse suas raízes molhadas

O seu choro em planto
agora alimenta de forma visceral
a pequena esperança da perpetuação
e em cada buraco no chão
serve de sustento
à uma ostentação ínfima de soberania
onde a rainha dorme em paz
e nunca será capaz
de dizer olá ao brilho fraco
do verde na noite

Pois o seu reinado
nunca aprendeu cantar.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Gatilho eidético



Você se lembra dos antigos campos
onde se construíam correntes,
onde era verde e passageiro ?

Mas já não é mais

Lembra onde as ideias permeavam um mundo
hoje conhecido como irreal ?
As projeções eram simples
e idiotas, e não há hoje sinal aparente
pra que fosse verdade todas as
vontades.

O limite da verdade interior,
e do sentir-se,
vai até o fim de si mesmo e não passa disso,
embora algumas dessas verdades tentem fugir,
embora alguns olhares tentem roubar e
definir a verdade alheia, cada uma é exclusiva
e a única que é real e verdadeiramente
interessante, pra quem a vive.

É estranho o pensamento de desespero
quando se fala na morte do corpo,
no preparo que temos para quando
a vontade desaparece.

Se você não está indo agora, não há porquê
se desesperar, e se você está,
não tem amanhã para se preocupar
e chorar seus lamentos de não existência

Ainda creio eu que não seja essa
uma ideia mórbida.

Inseridos sob os olhos, uma pequena dúvida
instiga toda a atenção à deitar-se com a preocupação
da divindade de viver através do amanhã

Um evidente sinal vital que se arrasta
pra justificar o novo raiar da íris,
a descoberta da luz,
o reflexo das horas;
Um sentimento de fim interno do eu
alongado e espalhado
sobre uma grande fatia de pão

quinta-feira, 14 de março de 2013

Centro do Palco

Da Série - Rabiscando Ideias na Luz Falsa



De lá,
o ilustrícimo senhor amanhecer,
da noite pro vinho cortou seus indicadores
e sem saber
como num passe de mágica
costurou seu destino num laço
e agora passa sua vida dentro do próprio cativeiro
cultivando o nada,
olhando ao longo do lago
as interpersonalizações
almejando compreende-las,
rabiscando ideias na luz falsa,
tratando mais do questão-eu
em particular distancia segura.
flechando as miragens,
fitando os sentidos, imaginando
construindo pedra por pedra
o seu forte.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Peça



O vidro me mantem frio,
numa cela sistemática
de constância neutra,
numa cadeia de horas
onde não cabe o espaço
da pergunta "por que".

Será esse o bom-dia que eu quero ouvir ?

Trancado, retilíneo e uniforme
deixando o dia amarelado pra trás.

Quando no distante mundo interno
há uma pausa,
eu me lembro de que
ainda não me encaixo

e deixo.

Quando o medo não fizer mais sentido
e o viver for mais que uma fumaça
sem destino, obrigatória nos pulmões

eu vou.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Hora




É tudo tão só aqui no quieto da noite
que as vezes nem sei se fui
ou se ainda estou

inquieto instante momento
que já se foi
e é.
O mundo da o ar
da graça.
São horas passadas
que amanhã me custarão
os olhos
a calma,
e talvez a paz do dia.

E é custoso, além,
saber um tanto mais
do atemporal costume de viver.
seguindo a vida
nas vielas do castelo
escondido no topo dos corações.

Eu ainda sei
que nada para
e não se sabe aonde vai parar
além da imensidão do infindável mundo.

Derivados sons,
encruzilhados sentimentos
São pássaros passados
que não tem preço.
Sem olhar pra trás.

Então me vejo e acho graça
porque não há nada de mim
nas horas