quinta-feira, 2 de maio de 2013

Vazio

Da Série - Rabiscando Ideias na Luz Falsa



Num imenso anil de ondas desconsertantes
habita um amarelo e envelhecido sorriso-de-bom-dia

A chuva de raios dourados que severamente beija sua careca enrugada
rouba de sua cabeça memorias sensoriais que, dias atrás,
eram mais vivas que sua pele

Seu queixo tremulo abriga lábios secos. Sedentos.
Tão finos grãos de areia que separam e guardam a volta lúcida
do cristalino que por hora olha à sombra da sua própria mão
os ponto-negros-gaivotas
que tão longe quietas
costuram no céu uma aurora de esperança
ofuscada pela peleja dos azuis entrepostos
e do ardor que lhe toma a consciência.

Todos olhares espectam sem saber o por quê
da renovação diária da vontade, da necessidade
ou de onde vem a inércia
que permeia e move os lábios
permitindo que se apresente o sorriso.

Amarelo e envelhecido sorriso.

sábado, 20 de abril de 2013

Interlúdio

Da Série - Rabiscando Ideias na Luz Falsa



    -Olá senhor verde.
Disse, naquele sussurro vago,
uma alma penosa de vestes longas
ao largo da noite.

Em vão.

De resposta só se ouvia a mente sã
de fundo de pano
para a musicalidade irracional e passional
das valsas cricrilantes.

O olhar triste que agora fitava opaco
frustrava e estilhaçava a vontade infinita
de uma alma inferior interagir de forma animal
com outra que não fosse suas raízes molhadas

O seu choro em planto
agora alimenta de forma visceral
a pequena esperança da perpetuação
e em cada buraco no chão
serve de sustento
à uma ostentação ínfima de soberania
onde a rainha dorme em paz
e nunca será capaz
de dizer olá ao brilho fraco
do verde na noite

Pois o seu reinado
nunca aprendeu cantar.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Gatilho eidético



Você se lembra dos antigos campos
onde se construíam correntes,
onde era verde e passageiro ?

Mas já não é mais

Lembra onde as ideias permeavam um mundo
hoje conhecido como irreal ?
As projeções eram simples
e idiotas, e não há hoje sinal aparente
pra que fosse verdade todas as
vontades.

O limite da verdade interior,
e do sentir-se,
vai até o fim de si mesmo e não passa disso,
embora algumas dessas verdades tentem fugir,
embora alguns olhares tentem roubar e
definir a verdade alheia, cada uma é exclusiva
e a única que é real e verdadeiramente
interessante, pra quem a vive.

É estranho o pensamento de desespero
quando se fala na morte do corpo,
no preparo que temos para quando
a vontade desaparece.

Se você não está indo agora, não há porquê
se desesperar, e se você está,
não tem amanhã para se preocupar
e chorar seus lamentos de não existência

Ainda creio eu que não seja essa
uma ideia mórbida.

Inseridos sob os olhos, uma pequena dúvida
instiga toda a atenção à deitar-se com a preocupação
da divindade de viver através do amanhã

Um evidente sinal vital que se arrasta
pra justificar o novo raiar da íris,
a descoberta da luz,
o reflexo das horas;
Um sentimento de fim interno do eu
alongado e espalhado
sobre uma grande fatia de pão

quinta-feira, 14 de março de 2013

Centro do Palco

Da Série - Rabiscando Ideias na Luz Falsa



De lá,
o ilustrícimo senhor amanhecer,
da noite pro vinho cortou seus indicadores
e sem saber
como num passe de mágica
costurou seu destino num laço
e agora passa sua vida dentro do próprio cativeiro
cultivando o nada,
olhando ao longo do lago
as interpersonalizações
almejando compreende-las,
rabiscando ideias na luz falsa,
tratando mais do questão-eu
em particular distancia segura.
flechando as miragens,
fitando os sentidos, imaginando
construindo pedra por pedra
o seu forte.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Peça



O vidro me mantem frio,
numa cela sistemática
de constância neutra,
numa cadeia de horas
onde não cabe o espaço
da pergunta "por que".

Será esse o bom-dia que eu quero ouvir ?

Trancado, retilíneo e uniforme
deixando o dia amarelado pra trás.

Quando no distante mundo interno
há uma pausa,
eu me lembro de que
ainda não me encaixo

e deixo.

Quando o medo não fizer mais sentido
e o viver for mais que uma fumaça
sem destino, obrigatória nos pulmões

eu vou.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Hora




É tudo tão só aqui no quieto da noite
que as vezes nem sei se fui
ou se ainda estou

inquieto instante momento
que já se foi
e é.
O mundo da o ar
da graça.
São horas passadas
que amanhã me custarão
os olhos
a calma,
e talvez a paz do dia.

E é custoso, além,
saber um tanto mais
do atemporal costume de viver.
seguindo a vida
nas vielas do castelo
escondido no topo dos corações.

Eu ainda sei
que nada para
e não se sabe aonde vai parar
além da imensidão do infindável mundo.

Derivados sons,
encruzilhados sentimentos
São pássaros passados
que não tem preço.
Sem olhar pra trás.

Então me vejo e acho graça
porque não há nada de mim
nas horas

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Inerte




Existe além do chão quebrado,
além do céu empalhado e estático,
uma estrada sinuosa e turva
onde meus pés não invocam,
onde minhas lagrimas não chegam ao solo.

Há além do limiar horizonte dos nossos olhos
um grande e pertinente buraco
que se alastra cada vez mais pra dentro,
pra cima
e pra baixo
cortando todas as veias,
explodindo todos neurônios,
gotejando cada ser
aos poucos
na margem da vida.

Existem dois pés
um par.
Existe milhares de imensas chaves
e sua mão não consegue alcança-las
quanto menos apanha-las.
São só chaves, não se vê fechaduras.
Adornadas chaves sem segredos
retas e lisas
feitas pra trancar o futuro
e deslocadas pro nada.

São todas cordas bambas
tensas num rastilho desgastado
levando sangue,
captado e bombeado
de forma amplificada e contraída.
São ondas de fumaças douradas
que insinuam uma silhueta torta
e rasgada de um ser mórbido,
apático e incapaz de se reconhecer,
incapaz de achar seu bem.

Despido de pretensões
Vontades
Satisfação

Uma forma abstraída,
focada egoistamente num centro de pensamentos
completamente emaranhados.

A ponta de um iceberg de diamante
que brilha e reluz, sob a fria aurora
que baila suas curvas,
a luz do enfraquecido astro
que diz um adeus aquentador no horizonte
distante.

Há areia,
Gelo,
Grama, terra e pedra.

Há vento,
Chuva,
Relógios, cadeiras e chás.

Há um além desses olhos mortais
destinados a prisão da própria mente
num amontoado de papel-moeda
sentado, falando sozinho.


Há um nome na certidão,
há uma presença na multidão,
por mais que não seja a intenção,
nem a vontade,
ainda existe um corpo vivendo aqui fora.

Mas esse não sou eu.