quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Fica Mais Um Pouco


Sem mais
Um momento pra eu respirar
Eu consigo num ponto achar
Um motivo, um espaço algum
Que me traga de volta

O ar
E devolva pra mim a razão
Pois na cama não vou encontrar
Um espaço e motivo algum
Que me faça querer

Esquecer
Todo o dia que eu me deixar
Toda vez que eu olhar para trás
Todo sonho que ainda me traz
Um pedaço de dia

Ruim
Todos olhos olham para mim
Todo dia é o começo do fim
Cada dia é uma nova festa
E sorrir é só o que nos

Resta
Talvez pra fugir do perdão
De si mesmo, e buscar em vão
Um descanso finito e tranquilo
Os meus dentes escondem o

Não
Que afiado me corta a garganta
E se tranca atrás do meu grito
Eu o mato e me ressuscito
Esperando o

Fim da semana
Do trabalho, da escola, da vida
Minha história que se multiplica
Em pedaços que não são tão meus
E o riso que então me

Restava
Se transforma no leito de um rio
Que transborda num peito vazio
Onde a autentica angustia dança
Afastado de mim eu

Descanso
Ao menos tento deixar-me calado
O meu corpo anestesiado
Já não lembra o que é dormir
Só faz parte de um

Existir
E deixar de sentir o que pensa
É morrer por viver tão de pressa
Deixar de pensar no que se sente
É viver a favor da

Corrente
Que me prende na realidade
Na real, já passei da idade
De ser assim tão irreal

E pra que viver afinal?

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Xis



As vezes a gente só quer morrer por um tempo
E ver as coisas de longe,
Sem ter que estar tão ligado a elas

As vezes a gente quer morrer por um tempo
E deixar de forçar o que parece
Que é a única coisa que conseguimos ser

Mas com tanto vento soprando la fora
eu respiro o bafo daqui.

As vezes a gente só quer

Deixar os significados para trás
Esquecer que houve chaves pra se chegar
Esquecer que houve portas só pra trancar

E o que rege a sabedoria vital
Se não a exigência final
De ter que ficar?

Faz um tempo confortável la fora
E o contemplar de nós
Fica dentro de uma cela

Por que seu Deus fala mais alto?
Se você tem seu pai, eu posso seguir minhas vozes do além
Ou talvez ouvir a voz divina
Seja ter
A mente dividida também

Por que seu capital fala mais alto?
Se há tanta especulação eu posso seguir sendo aquém
Do que se rotula esperado
Ou talvez
Não se espere de ninguém

A dignidade não está no fim
De uma cadeia de produção
Ser você é o maior desafio da vida
E pra isso não existe perdão

O poder do querer deixar-se pra trás
É o maior desafio de ser você

De uma forma completa matar-se por fora
É o melhor jeito de poder se ver

Não é no espelho que nos conhecemos
Não é na boca do outro que a gente se faz
Veja bem, a gente é apenas um fragmento
Do universo que nos constrói

Um tchau pra todo mundo
Um tchau pra qualquer um

Um espaço, um fim, um novo estado
Um começo sem algum

Um tchau pra todo mundo
Um tchau pra qualquer um

Um trinco, um, dois, um novo lado
Um achado incomum

Um tchau pra todo mundo
Um oi só pra mais um

Dos tantos lados incapacitados
Ocupados em serem nenhum.

Um vai pra qualquer lado
Outro vai pra lado algum

Os dois encontram no mesmo ser
O que não se acha comum.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Estação Abandonada



Pelos brancos entrelaçados
arqueados sobre um olho
cego
que velado pelas poças d'água
assistem inebriados os trilhos
no infinito

o vento caminha
quase num balé assoviante
entre os pilares que sustentam
o que resta de um teto
uma parcial cobertura
inutilmente arqueia-se
sobre um chapéu
que é beijado pelo vento
que é estremecido nas raízes

o chão irregular
já não suporta mais
os velhos sapatos
os velhos pés úmidos
os velhos joelhos já não
aguentam o corpo
o chão não é o suficiente

vagando no
vazio espaço do mesmo lugar
ruas, vielas, trilhos,
números, ponteiros
todos no vazio espaço do mesmo lugar

um sonho real
que vai além do céu
que vai além da vida

você nas nuvens
o sol na cabeça

a água nas nuvens
você na cabeça

debaixo das nuvens
seus pés no chão

esperando o trem

esperando o trem
azul,

que não vem.