domingo, 24 de fevereiro de 2013

Inerte




Existe além do chão quebrado,
além do céu empalhado e estático,
uma estrada sinuosa e turva
onde meus pés não invocam,
onde minhas lagrimas não chegam ao solo.

Há além do limiar horizonte dos nossos olhos
um grande e pertinente buraco
que se alastra cada vez mais pra dentro,
pra cima
e pra baixo
cortando todas as veias,
explodindo todos neurônios,
gotejando cada ser
aos poucos
na margem da vida.

Existem dois pés
um par.
Existe milhares de imensas chaves
e sua mão não consegue alcança-las
quanto menos apanha-las.
São só chaves, não se vê fechaduras.
Adornadas chaves sem segredos
retas e lisas
feitas pra trancar o futuro
e deslocadas pro nada.

São todas cordas bambas
tensas num rastilho desgastado
levando sangue,
captado e bombeado
de forma amplificada e contraída.
São ondas de fumaças douradas
que insinuam uma silhueta torta
e rasgada de um ser mórbido,
apático e incapaz de se reconhecer,
incapaz de achar seu bem.

Despido de pretensões
Vontades
Satisfação

Uma forma abstraída,
focada egoistamente num centro de pensamentos
completamente emaranhados.

A ponta de um iceberg de diamante
que brilha e reluz, sob a fria aurora
que baila suas curvas,
a luz do enfraquecido astro
que diz um adeus aquentador no horizonte
distante.

Há areia,
Gelo,
Grama, terra e pedra.

Há vento,
Chuva,
Relógios, cadeiras e chás.

Há um além desses olhos mortais
destinados a prisão da própria mente
num amontoado de papel-moeda
sentado, falando sozinho.


Há um nome na certidão,
há uma presença na multidão,
por mais que não seja a intenção,
nem a vontade,
ainda existe um corpo vivendo aqui fora.

Mas esse não sou eu.